Como realizar um projeto social sem vinculação política, religiosa ou com interesses financeiros por trás e ainda vencer a desconfiança natural da comunidade?
Esse foi o desafio assumido pela dona de casa Walkíria França, moradora de Bola na Rede, comunidade da Guabiraba, que no início do ano passado criou o projeto Ritmo do Coração para ajudar a melhorar a vida de crianças, jovens e adultos da localidade. Ainda não formalizado legalmente, o projeto vem conquistando o respeito da comunidade, o apoio de instituições e a colaboração de muita gente.
“A gente vê que as pessoas estão descrentes de tudo, sempre me perguntam se sou candidata a algum cargo eletivo ou se sou financiada por algum político. É só no dia a dia, fazendo um trabalho de formiguinha mesmo, que a gente vai mostrando que nosso único interesse é o de ocupar as crianças nos horários extra classe e criar espaços de convivência para os adultos, pois achamos que assim podemos mudar a realidade”, explica Walkíria.
Esse “trabalho de formiguinha” de que ela fala pode ser visto numa rápida visita à Escola Municipal de Bola na Rede, onde as atividades do Ritmo do Coração são desenvolvidas. Ali as crianças aprendem, de forma divertida e barata, não só as lições de inglês e espanhol, matemática ou ciências. Aprendem também a não desperdiçar nada, a usar a criatividade para reusar tudo o que for reutilizável, e a respeitar uns aos outros.
“Como passei por muitas dificuldades na minha vida, eu mesma tenho essa preocupação e tento passar para as crianças a importância de se combater o desperdício. Todo o material usado por elas aqui, por exemplo, é reutilizado. Os cadernos são apostilas doadas, as folhas de papel para desenho são folhas já usadas de um lado, e sempre procuramos objetos usados para transformarmos em material educativo”, conta Walkíria.
Para ajudar no sonho de ver as crianças da comunidade usando seu tempo livre em atividades produtivas, Walkíria foi atrás de voluntários. Encontrou alguns na própria comunidade, outros vieram por meio do Transforma Recife (programa de voluntariado da Prefeitura do Recife) e muitos outros chegaram de países como China, México, Alemanha e República Tcheca, via programa de intercâmbio Aiesec. São jovens de diferentes classes sociais que vêm compartilhando seus conhecimentos em idiomas, esportes, cultura e meio ambiente com as crianças de Bola na Rede.
A comunidade – segundo Walkíria, que mora lá desde a fundação, há mais de 20 anos – cresceu muito e hoje sofre, como quase todas as comunidades pobres do Recife, com o problema das drogas e da violência contra a mulher. Pensando também nisso, a própria Walkíria fez um curso de instrutora de zumba e oferece aulas de ritmos latinos a mulheres adultas da comunidade.
“A zumba não só é um excelente exercício físico, mas a aula de dança é um momento em que as mulheres extravasam, riem, brincam, se divertem mesmo. É uma terapia, um remédio para a autoestima e o empoderamento feminino”, diz a coordenadora/instrutora.
Terapia, aliás, é uma função indireta do Ritmo do Coração. As vinte crianças de 7 a 13 anos que participam das atividades (inclusive em tempos de férias), e mais outras quinze que participam de aulas de balé à noite, encontram no projeto a atenção e o afeto que muitas vezes não têm em suas casas. “Elas adoram abraçar! Muitas chegam falando que há dias não conseguem conversar com suas mães, que estão sempre trabalhando. De uma certa forma elas encontram, aqui, pessoas dispostas a ouvi-las e a orientá-las”, descreve Walkíria.
A maior necessidade hoje, do projeto, é com a alimentação dos voluntários. Quem puder ajudar e quiser conhecer o projeto, deve ligar para Walkíria (081) 99102-4688 ou Rayane Costa (081) 99784-2984, ou dar uma chegadinha à tarde na Escola Municipal de Bola na Rede, que fica no início da PE-016, também conhecida como Estrada da Mumbeca.
Instagram: @projetoritmodocoracao
Cadastre-se para receber nossa newsletter.